O exercício da liberdade de uns deixa de ser aceitável quando interfere na liberdade de outros
O direito de uns fazerem greve, que é inalienável num Estado democrático, é tão legítimo quanto o de outros não o quererem fazer, num Estado em que a liberdade - penso eu - ainda é um valor igualmente inalienável, de acordo com a Constituição que tantos apregoam, em nome de uma requerida equidade, tantas vezes invocada para defender interesses mais ou menos legítimos de corporação, mas quase sempre olvidada quando não importa – veja-se a dicotomia de, no mesmo país, certos cidadãos serem obrigados a trabalhar 40 horas semanais e outros 35, perante o silêncio, de décadas, das estruturas sindicais.
Serve este breve intróito para dizer que, por estes dias, tenho observado coisas que me perturbam, nomeadamente de determinados cidadãos, com comportamentos muito pouco democráticos, coagirem outros a fazerem greves, insultando-os com epítetos pouco democráticos e civilizados!
Não pretendendo entrar na deriva da discussão sobre determinada greve, sobretudo do seu ‘timing’, não é intelectualmente aceitável, nem democrático vilipendiar colegas de classe que ousam querer trabalhar, impondo um ‘determinismo’, imposto pelas nomenclaturas sindicais, com laivos de sociedade coletiva em que nunca acreditei.
É tão pouco democrático vermos um ministro ou um governo querer impor, pela força, alterações em determinada legislação, sem cuidar de ouvir as preocupações de uma certa classe, como observarmos representantes desse grupo profissional a impor a sua vontade a outros que dela discordam.
O exercício da liberdade de uns deixa de ser aceitável quando interfere na liberdade de outros.
Estes são os valores da tolerância, do humanismo e do respeito pelos que de nós discordam, em que acredito!